sábado, 12 de novembro de 2011

Desafio Praias e Trilhas 2011- relato do primeiro dia de prova( sol ,lama,vento e cãimbras!)

Essa prova completou esse ano a sua décima edição. Esta era para ser a última ,segundo o organizador prof.Carlos. Mas ele anunciou que em 2013 tem mais!!!Para mim era a segunda participação.Ano passado eu completei a prova fechando em mais de 17horas somando os dois dias .Sim são dois dias.Imaginem vocês se em um  dia de competição a gente já se diverte , em dois dias então...rs.
 Basicamente eu tinha que fazer 42km em um dia e mais 42km no dia seguinte.Tudo começa na Joaquina já na Sexta-feira onde pegamos o kit e em seguida caminhamos do hotel até um restaurante na beira da praia para o animado jantar da véspera.Revemos amigos ,conhecemos novos,mas basicamente são os “loucos” de sempre.Não viemos do mesmo “hospício” mas falamos a mesma língua...Depois do jantar reforçado ,voltei para o hotel ,preparei tudo( tudo mesmo) que eu ia precisar no dia seguinte e caí na cama.Difícil dormir com a adrenalina lá em cima.
No dia seguinte,quer dizer, às 4 da manhã levantei botei a bermuda de compressão e a camisa já com número e desci para tomar um café reforçado.Pão ,banana, bolo,leite ,suco , sem medo de ser feliz.Não pode isso ,não pode aquilo,esquece!Ou tu tem combustível ou é pane seca na certa! Às 5 horas eu já tava entrando em um dos 4 ônibus que trasportariam os atletas para a largada. Lá dentro eu lembrei do bloqueador solar que ficou no quarto(tarde demais).Olhei pro céu começando a clarear e nada de nuvens.Mais de uma hora sacolejando no ônibus e chegamos no pequeno colégio na região de Caieiras(extremo sul da ilha) onde acontece a largada. Direto para a pesagem oficial que faz parte das regras.Ok,  estou com 88,5kg( distribuídos em 1,81).Pesado,eu sei, mas meio quilo a mais que no ano passado apenas.
Passavam uns 10 minutos das 7 horas quando veio a contagem regressiva e a largada.Saímos por uma rua de asfalto totalmente deserta e cheia de subidas e descidas.Um bom aquecimento.Após  mais ou menos 1,5km dobramos a direita e uma subida íngreme nos levou direto para a primeira trilha, a trilha de Naufragádos. Eu , já suando em bicas,sigo caminhando apressadamente na fila indiana de corredores pela trilha acidentada. Corre-se quando dá ,caminha-se quando é preciso.Um fungando no cangote do outro, pedindo passagem , dando passagem  e assim vai...Apesar do sol que já se anunciava ,as chuvas da semana anterior tinham deixado as trilhas muito úmidas e extremamente perigosas.Mesmo usando um Salomon XA Pro eu seguia na trilha com o máximo cuidado pra não cair.Mas tava tão úmido que a queda era inevitável ,só não sabia onde nem quando,rs. Na descida da trilha escorreguei e bati o joelho numa pedra.Só um ralado e nada de mais grave ,segui em frente.No fim da trilha o visual compensador da linda praia de Naufragados.Dá vontade de ficar por ali mesmo!Mas a praia é pequena e depois de uns 300 metros de areia  eu já estava na trilha de novo. Dessa vez uma trilha mais longa ,dura e úmida. Começam as minhas câimbras,que maravilha! Numa das descidas lamacentas eu escorrego e pá!Cãimbra nas duas panturrilhas.Caí no chão urrando de dor.Um cara que vinha atrás achou que eu tinha quebrado a perna,rs.Falei pra ele continuar que tava tudo bem e era só esperar a musculatura completar a contração. Minutos depois eu tava de volta à prova. Nas subidas as câimbras vinham no músculo reto femural  enquanto nas descidas vinham nas panturrilhas.Aos trancos e barrancos eu sigo em frente até que a trilha chega numa área aberta perto do mar.Chegamos na comunidade do Saquinho ,onde uma senhora moradora do local espera a gente com água ,bolachas ,coca e até um banheiro se for necessário.Faço uma breve parada e continuo em frente.Agora numa pista de cimento que leva à uma subida absurda.O limo na pista e a inclinação fazem alguns corredores seguirem pelo mato(como eu) enquanto outros vão literalmente engatinhando pra não cair.Finalmente chegamos na praia da Solidão!Mais um visual compensador, adoro essa praia!!!

Depois dessa curta praia e mais um trecho de costão chego na praia de Pântano do Sul.A areia dura é um alívio para mim ,que sigo perdido nos meus pensamentos olhado as crianças bricando ,pessoas caminhando , muitos olhando incrédulos para a figura suja de lama correndo com uma “mochilinha” nas costas,rs. No final do Pântano do Sul ,em frente ao badalado bar e restaurante do Arante está a barraca da organização do praias e trilhas.Parada obrigatória. Hora de abastecer a camelback, comer muita banana, pão “bisnaguinha”( que só desce se molhado na coca),muita coca-cola e água.Esse foi o meu almoço.Sem perder muito tempo voltei para prova seguindo pela rua que dá acesso à praia.A essa altura as pernas já estavam exaustas  embora a dor no joelho que eu tive ano passado nem apareceu.Passei na frente de uma mercearia e dois “ilhéus” me perguntaram se eu ia pegar a trilha do matadeiro.Eu fiz que sim sem entender a cara de espanto deles,rs.Tinha agora pela frente a pior ,mais longa e cansativa trilha.A impressão que eu tive foi que passei horas e horas dentro da mata, muitas delas completamente sozinho botando um pé na frente do outro ,correndo mais por instinto que por vontade...Certeza que eu tava mais debilitado que o ano passado.Depois de muito tempo a trilha acabou e eu cheguei na paradisíca lagoinha do Leste, um lugar mágico e totalmente deserto.Só que esse ano a areia tava muito mole e a maré alta espremendo  a gente para cima.Atravessei a praia e cheguei no costão que me esperava no outro extremo.Lembrei que tinha uma bica de água pura ,fui até ela bebi,bebi muito.Uma água gelada que vinha de alguma nascente no alto do morro.Aí veio o costão do matadeiro ,que também é longo ,mas sempre tem gente caminhando por ali então passa mais rápido.Já na praia do Matadeiro tava rolando um campeonato de surf local e tive que desviar dos vários surfistas que vinham na direção oposta.Do matadeiro passando por uma pequena ponte chegamos na praia de armação onde tinha o último posto de abastecimento grande antes da chegada. Dessa vez eu fui no banheiro, depois sentei ,tomei uma coca ,comi mais bananas e esperei  um pouco antes de partir por  uma espécie de dique que a prefeitura construiu para conter o avanço do mar. Uns 2km de alívio antes de pegar a areia fofa de novo.Claro ,eu não falei aqui,mas todo esse tempo  na presença de céu azul sem nuvens e um sol mostrando toda a sua força. Isso vai minando as forças da pessoa e sem que ela perceba vai surgindo a ensolação...Das areias da armação segui em direção ao morro das pedras ,onde pegamos um trecho curto de asfalto até a praia do Campeche. No Campeche  eu arriei,rs.Sentei na escada e tirei o tênis, que com a areia e a umidade parecia tar pesando uns 3kg cada pé. Calcei os tênis nas mãos e segui de meias  , para espanto dos praieiros de plantão.Imaginem a cena: todo sujo,correndo com dificuldades pela areia, de meias e com os tênis nas mãos.Esse era eu.Um vento fortíssimo começou a soprar contra transformando os 8km finais de areia levemente fofa em um martírio para mim.Eu evitava olhar para o horizonte porque o hotel na Joaquina é como uma miragem de um ponto distante que não se aproxima nunca.Fui obrigado a usar a técnica do Dean Karnazes(“passinhos de bebê”) para conseguir chegar na Joaquina.
  Após 8h e 58 min eu cheguei na Joaca, todo encarquilhado. Tava tão exausto que nem lembrei da medalha.A menina veio correndo atrás de mim,rs. Na pesagem obrigatória descobri que tinha perdido 4,5kg  e ainda era apenas o primeiro dia! Tomei dois copos de sopa quente, fui para o meu quarto e entrei no chuveiro.Eram umas 4 e meia da  tarde quando saí do chuveiro ,tomei 2 frascos de ALLPROX gelados ,um comprimido de nimesulida , caí na cama e “desmaiei”.As 20 e30 levantei e fui para o restaurante tratar de comer tudo o que tinha direito. Pensei sériamente em não largar no dia seguinte ,principalmente por causa das cãimbras.Essa dúvida foi comigo para cama nesse dia e me atormentou a noite inteira até o dia seguinte... Termino aqui o looooongo e detalhado relato do primeiro dia dessa prova!